Em primeiro lugar, peço perdão pelo neologismo do título. O corretor automático do meu processador de texto já me avisou que a palavra não existe. Mas por hoje, façamos de conta que exista. Peço perdão aos editores, também.
Somos uma geração profundamente superficial. Contrassenso? Não. Desde as regiões mais profundas do nosso ser, tratamos tudo com uma superficialidade perigosa. Por não sermos plenos, profundos e ponderados, flutuamos de uma coisa para outra feito borboletas, sem parar e pensar bem sobre o que seja. Vivemos num mundo de relances, grafites, impressões e factoides. O pior é que achamos que essas coisas nos mantem informados. Mas só porque estamos a par das últimas novidades não quer dizer que tenhamos qualquer noção da realidade. Temos apenas uma impressão sobre as coisas, sem realmente entendê-las. É um assunto que me assombra, confesso. Volto a falar e escrever sobre isso com frequência. É desanimador viver numa sociedade que não tem a menor capacidade de discurso lógico, nem no sentido de poder cunhá-lo, nem no sentido de sequer entendê-lo.
Faz tempo que fiz uma defesa de uma teologia reformada e alguém me perguntou: “Quer dizer que uma vez salvo, sempre salvo?” Para essa pessoa, a frase era uma espécie de resumo de uma das cinco afirmações da doutrina de salvação calvinista – no caso, perseverança do santos. Sem entender sequer o que isso quer dizer, a pessoa achou que eu estava seriamente enganado por ter abraçado uma “heresia”. Como explico no meu livro O Pentecostal Reformado, ser reformado compreende uma clara apreensão de várias doutrinas e pontos cruciais de uma cosmovisão. Uma frase dessas reduz um mundo de estudos bíblicos ao que não passa de um slogan. E teologia não se faz assim. O bom teólogo não pode reduzir tudo em poucas frases de fácil apreensão. Slogans não são os tijolos com os quais se pode construir um edifício de fé, um templo de devoção ou uma vida de obediência a Deus. Requer estudo, ponderação, mil atos de obediência diária e anos de experiência com Deus. Os que são maduros em Cristo jamais podem reduzir sua fé a algumas poucas frases. Assim como não se pode reduzir a sua história ou quem você é a apenas uma palavra, título ou frase. Sua história vem de longe, dos seus pais, da sua infância, dos seus anseios, sonhos e até traumas. Quem você é não pode ser tipificado por um chavão. Assim como fé madura e teologia responsável não podem ser reduzidas a umas poucas frases postadas num Facebook da vida. Twitter não é lugar pra se fazer teologia. Mas há muitos “teólogos” que não passam de diletantes. Um diletante é alguém que acha que compreende algo, sem de fato ter feito o esforço de realmente aprender o que fala.
Estudo não é para os diletantes. Estão mais preocupados em manter sua aljava cheia de flechas, frases de efeito, chavões e lacradas. Gostam até de tascar um versículo de vez em quando só pra mostrar que são “bíblicos”. Mas os seus pensamentos e o seu discurso continuam profundamente superficiais. Resumem o irresumível. É como reduzir um cachorro para algo que só tenha duas pernas dianteiras. O que sobra é um ser anormal e aleijado, assim como a conversa de muitos supostos teólogos de internet.
WM