Dando sequência à nossa série de textos, chegamos à quinta lei do ensino: a lei do coração. O autor Howard Hendricks resume essa lei da seguinte forma: “o ensino de impacto não é o que passa de mente para mente, mas de coração para coração”. Aprender é modificar-se, mente e coração, razão e emoção. Sendo assim, o processo de ensino-aprendizagem vai além de uma mera transmissão de conhecimento intelectual, mas deve envolver o caráter, a emoção e o conteúdo.
Esse assunto também é bem desenvolvido por James K. A. Smith, em seu livro “Você é aquilo que ama”, da Editora Vida Nova. Ele afirma que fomos influenciados a pensar que somos aquilo que pensamos, quando na verdade o testemunho bíblico nos aponta que somos aquilos que amamos. Essa transição da prevalência da mente e da racionalidade para a prevalência dos desejos e amores é um caminho importante para que realinhemos nossas prioridades no Reino de Deus.
A supremacia da racionalidade é creditada ao Iluminismo, mais especificamente a René Descartes, que cunhou a conhecida frase “Penso, logo existo”. Essa correlação da existência humana com o pensamento tem permeado boa parte do entendimento ocidental moderno. Ultrapassar essa linha de pensamento é nadar contra uma forte correnteza, principalmente num mundo onde as emoções e sentimentos são tão banalizados.
Quais as consequências disso na experiência de sala de aula? Nos tornamos experts em repassar informações sobre Deus, mas temos falhado em fazer nossos alunos amarem e desejarem estar com esse Deus que ensinamos. Para tornar o cenário mais trágico, talvez nem nós mesmos, queridos mestres, temos esse amor e desejo pelo próprio Deus. Podemos muito facilmente permanecer enganados com mero conhecimento sem desejo no coração pelas coisas de Deus.
Com isso, vivemos numa eterna lacuna entre o que se sabe o que se faz. Os caminhos do conhecimento e da santidade não se cruzam, por vezes. Então resta a dúvida: se já sabemos de algo, por que não vivemos aquilo que sabemos? Qual é o problema na comunicação entre o que a mente absorve ou adquire, para o que o restante do corpo deseja fazer ou amar?
Por isso tanto Hendricks quanto Smith propõe um caminho em direção ao coração: nós não conhecemos para amar; amamos para conhecer. Agostinho resume isso em outras palavras: “Criaste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração não tem sossego enquanto não repousar em Ti”. Devemos ter mais sede por Deus, e menos curiosidade; saber que o “centro de gravidade” da nossa alma está no coração; buscar mais um desejo por amparo divino do que um saber independente.
Para trilhar esse caminho, precisamos desenvolver e ensinar as virtudes. Estas se diferem das regras: enquanto a virtude é um bom hábito moral, uma disposição interna para fazer o bem, a regra é uma determinação externa do que é bom e deve ser seguido. Quanto menos virtude, mais a necessidade de algum fator externo para obrigar a fazer o bem. Se ensinarmos pessoas a serem virtuosas e amarem a Deus, elas buscarão agradar àquele a quem amam. Isso não será forçado. Temos, portanto, a virtude.
Eis o desafio para nós, caros professores: devemos ensinar nossos alunos a amar e desejar a Deus mais do que o conhecimento que eles porventura terão desse Deus. Para isso, é necessário que essa realidade seja presente em nossas próprias vidas, uma vez que somos exemplos vivos para eles, com incrível capacidade de influenciá-los, positiva ou negativamente. Seja o temor a Deus nossa régua de ação e conduta, para que possamos gerar gente não apenas intelectual, mas que ama profundamente o Senhor. Deus abençoe a sua vida!