Jesus orou. Orou muito. Orou sozinho. Orou afastado de todos e em lugares ermos. Após ter orado, ele escolheu os doze discípulos que iriam participar do seu ministério e servir de testemunhas fiéis da sua vida, mensagem e missão. Esses doze viram Jesus multiplicar peixes e pães, andar sobre as águas, acalmar o mar com uma ordem apenas. Viram o Gadareno ser liberto de uma legião de demônios. Assistiram Lázaro sair do túmulo no qual jazia morte, após Jesus ter comandado a vida de volta ao seu corpo. Esses doze ouviram sua mensagem no monte, assistiram de camarote seus confrontos com escribas, fariseus e mestres do Talmud. Mas, nem todos produziram os mesmo frutos, nem todos foram ovelhas do Mestre. Entre eles havia um lobo. O mesmo Cristo que ensiou Pedro ensinou Judas. O mesmo poder para expulsar demônios e curar enfermos foi outorgado a João e a Judas, quando os doze saíram em missão. Os mesmos pães e peixes multiplicados foram distribuídos às mãos de André, Tomé e de Judas Iscariote.
Meu pai me ensinou um ditado importante: “O mesmo sol que derrete manteiga endurece concreto.” Quantos já foram membros da minha igreja, ouviram minhas mensagens e receberam meus cuidados pastorais? Foram alvo das minhas orações e alguns chegaram a exercer liderança na igreja. Lamento dizer que alguns até chegaram ao ministério. Lamento, porque esses mesmos líderes não estão mais no caminho do Senhor. Uns se foram, outros traíram e tem até uns que hoje batem tambor em terreiros. O que aconteceu? Ao constatar a apostasia de um e a traição de outro, naturalmente me condeno. Certamente errei em algo, fui insuficiente e falho no exercício do meu ministério. O que fiz de errado? O que fazer agora?
Ouvi uma música recentemente de uma cantora que passou por uma crise na sua fé. Lamento dizer que a solução que ela tanto celebra foi o abandono da sua fé ortodoxa. Abraçou conceitos que contrariam as Escrituras frontalmente. Parte o coração ver mais um ser ceifado pelo mundo a título de um “deus” menos bíblico mas mais “cristão”. A música que ouvi traz a seguinte frase: “não sei se sou uma ovelha perdida ou um lobo em pele de ovelha.” Que frase forte. Que frase chocante e contundente. E o que poderia ser mais relevante? Poucos se perguntam isso. A maioria crê piamente nas suas certezas, quando deveríamos sempre voltar às Escrituras para checar se as nossas perambulações não nos levaram, afinal, para fora do arraial do Mestre.
Hoje, poucas coisas me chocam. Sei de muita coisa, mas não sei de tudo. Certamente não consigo ler o que está dentro do coração do homem – isso só o Espírito Santo consegue perscrutar. Por isso, não posso garantir o resultado dos meus labores no ministério, nem posso ter certeza do dia de amanhã na vida de quem quer que seja. Só posso ser fiel e continuar a livremente receber e livremente dar. Como Paulo mesmo disse, “o que recebi também vos entreguei.” O resto é com Deus. O sol que ilumina meu ser assusta quem odeia a luz. A verdade dura que me serve de consolo e prumo é ofensa e loucura para os que se perdem. Mas para os que são salvos pelo sangue de Cristo, a mensagem da cruz é o poder de Deus.
WM