O que mais tipifica o tempo em que vivemos é a proliferação de propaganda de toda sorte, para todos os fins e para todos os gostos. A mais comum é a propaganda que uma pessoa faz de si. Pelas selfies pessoas buscam fama, reconhecimento, justificação da sua própria existência e aprovação dos seus amigos – tantos os verdadeiros, quanto os virtuais (que de amigos não são nada). Em prol dessa necessidade cultural de autoafirmação, o instrumento mais usado e mais forte é a imagem. Trabalhamos nossa imagem usando instrumentos sociais como o Instagram. Batemos fotos de nós mesmos na praia, no trabalho, na frente do espelho, na academia, com amigos, sentados à mesa etc. Milhões de fotos são compartilhadas por minuto ao redor do mundo na busca de pequenos sinais de aprovação. O proverbial like é tão almejado. Quando houver muitos, a pessoa se sente detentora de algum poder de persuasão, ou no mínimo de aprovação. É a fama de fundo de quintal. Não dependemos mais de comunicação de massa, de fama de ator. Basta ter algum fator a mais pra atrair e você se torna alguém. Os que conseguem acabam se tornando um produto vendável. Ganham patrocínios e portas se abrem. Mas a grande massa apenas vive à sombra desses poucos, procurando seu lugarzinho ao sol.
A questão de tudo isto é esta: temos uma preocupação enorme com a nossa imagem, a imagem que outros fazem de nós e a própria imagem que temos de nós mesmos. Nos vestimos em função dessa imagem. Frequentamos certos lugares em função dessa imagem. E abraçamos causas que condizem com a imagem que queremos ou imaginamos ter de nós mesmos e que outros eventualmente teriam de nós. Abraçamos causas que nem conhecemos muito bem, mas estão na boca do povo. Antigamente uma grande causa era “salve as baleias”. Periodicamente eu faço uma campanha de gozação sobre as baleias. Pergunto o que posso fazer para salvar as baleias. Sim, pois gosto de baleias. Nunca conheci uma baleia que não gostasse. Mas, confesso que mesmo após anos e anos de ouvir essa frase, ainda não sei o que fazer para salvar as baleias. Já vi adesivos de carros promovendo a salvação das baleias. Já vi inúmeras camisetas com essa frase. Até tatuagens com baleias, ou tartarugas, ou qualquer outra espécie ameaçada de extinção. Mas tatuagens não salvam ninguém; camisetas tampouco. Comprar uma camiseta com uma baleia nunca beneficiou uma baleia, que eu soubesse. Tatuagens sobre salvar os mares da poluição também nunca ajudaram a poluição do mar. “Então”, alguém pode perguntar, “é inútil esse esforço todo, essa campanha toda? Pra que serve?” E aqui não quero acusar, só desejo elucidar. Essas coisas têm muito mais a ver com a imagem que queremos cultivar de nós mesmos do que realmente a diferença concreta que podem efetivar. Sob essa rubrica, há inúmeras frases que são bradadas, como também causas abraçadas e defendidas acaloradamente que não passam de símbolos que queremos associar à nossa imagem. Queremos ser vistos como tolerantes, cidadãos do mundo, defensores de justiça social, esclarecidos, piedosos, e pasmem até reformados.
“EPA! Como assim?”, poderia protestar o leitor. Estou fazendo pouco da teologia reformada? Claro que não. Calma. Estou dizendo que nem todos que se dizem reformados sabem o que isso vem a ser, mas virou moda ser um dos novos reformados. A tribo é fácil de identificar. Tem barbas mais cumpridas, citam Calvino, Lutero, Spurgeon, Sproul e uma inifinidade de outros monstros sagrados do reduto. Mas temo que muitos não saibam a primeira coisa sobre o que realmente seja um reformado.
Um professor meu do seminário, o Reverendo Sinclair Ferguson, disse uma vez: “Você se diz um pastor reformado. Pois vou lhe dizer que eu entendo por isso. Um pastor reformado, de fato, prega todo dia e duas vezes aos domingos, e gasta um dia por semana inteiro em oração, além de tempo significativo diariamente perante o trono da graça.” Eu confesso que não faço tudo isto. Mas ao longo dos 25 anos que tenho trilhado esse caminho de pastor reformado, e mais, de pentecostal reformado, tenho aprendido que certas coisas precisam ser vividas profundamente. Se não, se tornam apenas uma tatuagem verbal, ou uma camiseta que amanhã poderia muito bem ser trocada por outra. Essas coisas exigem tempo, um hábito de pensar longa e profundamente. Mas os tempos não nos permitem reflexão. Temos que alimentar o Instagram, Twitter e Facebook. Precisamos de novas imagens, frases e citações dos antigos para mostrar o quão reformados somos. Temo que essa maneira de ser reformado pode muito bem ser pouco mais do que uma moda, para muitos. Sem piedade de fato, estudo, leitura e oração, vida em comunhão com uma igreja saudável e mais silêncio, somos pouco mais que diletantes – “entendidos” que não entendem nada além de algumas frases feitas e alguns conceitos superficiais.
WM