Há dias nos quais sofro de uma depressão existencial que chega a ser insuportável. A verdade é que vivemos num mundo impróprio para vida humana.
“Impróprio? Como assim?” Você pode indagar.
Sim. Impróprio. Pois quando pensamos neste nosso meio ambiente, seja físico, humano, psicológico, etc…, vemos que tudo neste mundo morre. Até a memória morre. Os notáveis de ontem mal são lembrados. Imortalidade neste mundo é uma ilusão. Claro que alguns vão disputar a tapa seu lugar na Academia de Letras, por exemplo, para serem incluídos entre os “imortais”. Mas, nem por isso podemos garantir uma consequência perene das nossas muitas lutas e esforços.
É claro que não vivo debaixo dessa nuvem sempre. Quem aguentaria? Mas é algo que volta a me assombrar quando certas coisas acontecem. Uma delas é quando uma discussão ou debate, chame o que quiser, surge nas mídias sociais, talvez no Facebook mais que em outras. Basta fazer uma colocação, mesmo a mais cuidadosa que seja, e me deparo com uma tropa ensandecida, com sete pedras na mão, querendo linchar-me por ousar criticar o que seja. Escrevi algo recentemente de igrejas que têm a aparência de casas de show, sobre como tendem à superficialidade e que a arquitetura de um prédio é uma linguagem própria que fala, mesmo que silenciosamente, criando um contexto em que, neste caso, não condiz com o Evangelho. Conclui com a frase, “mesmo que você pregue a mais pura verdade num picadeiro, você, ainda assim, está fazendo um show de circo.” Para que?
Quantos não concordaram com frases apimentadas, fazendo com que a minha colocação tão cuidadosa parecesse uma convocação à intolerância e condenação de toda e qualquer igreja assim. E quantos não me responderam com os comentários mais imprecatórios possíveis. Fui colocado no rol de “sepulcros caiados”, e daí para baixo. Estava fazendo um alerta, uma observação, somente. Mas foi interpretada como uma crítica de pessoas super consagradas e super dedicadas.
A igreja não anda bem. Quem não sabe disso? Mas fazer um comentário como esse faz aflorar o partidarismo mais ferrenho possível. Tem muito pouco haver com o espírito cristão. E o fato de ser uma crítica construtiva fica totalmente perdido no meio do furor e fel que jorra de post em post. Me faz querer desistir, mas como um líder na Igreja continuo a me angustiar. Como a igreja anda mal. Como precisamos de um resgate.
Ao mesmo tempo, sei que problemas fazem parte perene da Igreja nesta dispensação. Desde Paulo e os problemas dos Coríntios, passando por séculos de hereges, movimentos suicidas, distorções absurdas e cleros corrompidos, é um milagre que a Igreja ainda vive, sinceramente. Se fosse humana na sua essência, certamente já teria morrido de vez.
Somos uma assembleia de pessoas muito falhas debaixo do senhorio de um Deus perfeito e de luz imarcescível. Que paradoxo. Que milagre que ainda estejamos de pé. Mas, pensando bem, é um milagre mesmo. A Igreja existe porque Deus assim o deseja. A despeito de todas as nossas falhas, pecados, erros de doutrina e prática, e crendices, cá estamos caminhando na graça, aos trancos e barrancos. É impressionante e quase inexplicável. Para os que veem isto, no entanto, é um motivo de esperança futura e depressão presente. O corpo anda quebrado. O mundo está doente. A igreja confusa e poluída.
O jeito é dobrar os meus joelhos, pedir misericórdia, me arrepender dos meus pecados e orar, interceder muito. Melhor não deixar que o marasmo da internet inunde o meu ser. Melhor aquietar o coração e ler a Palavra de Deus. Sanidade não é fácil nestes tempos tão confusos. Mas é preciso. Ainda mais, é possível. Mas só por milagre mesmo.
+WM