A frase que mais tenho ouvido ultimamente não tem nenhum conteúdo poético, na verdade é uma afirmação carregada de um realismo tocante. Idosos, adultos de meia idade ou recém entrados nos anos iniciais da vida adulta, jovens, adolescentes e até crianças, afirmam constantemente: Estou cansado(a).
Esta reclamação em coro de considerável parcela de representantes das mais diferentes faixas etárias me tem preocupado bastante. Não poucas vezes encontro-me declarando repetidamente que também me sinto cansado. A maneira que a vida moderna está configurada, vem privilegiando demasiadamente a velocidade e isto não está produzindo um efeito lucrativo para as pessoas. Os prejuízos são enormes! Cansados, não produzimos, não criamos, não planejamos com sabedoria e realizamos nossas tarefas mais pela força da obrigação do que do prazer.
O maior perigo é quando o cansaço migra da nossa musculatura para a nossa alma. É quando nos cansamos dos outros, do que fazemos, das nossas rotinas, de quem somos… Geralmente, este cansaço não se cura entre os lençóis, com complementos energéticos e suplementos alimentares. Ele adere às paredes interiores do ser – às que não ficam a mostra nos raios X, nas ressonâncias magnéticas, nas tomografias e exames de ultrassom – num plano da existência que escapa dos procedimentos laboratoriais. Esse cansaço só se cura por ação do que pode ultrapassar os limites físicos do ser.
Tenho tido a oportunidade de encontrar tanta gente assim ultimamente! Gente desestimulada, encavernada, escondida entre os recantos escuros de seus pensamentos, calada, arredia, que me parece estar sempre em fuga… Confesso que tenho orado muitas vezes pedindo para que Deus me ajude para que possa tornar claro que a Lei do Senhor é perfeita e restaura a alma. Mas, principalmente que há descanso em Cristo.
Lutei por quase dois anos com minha esposa, vítima de uma depressão gerada pelo descontrole hormonal causado pela menopausa. Sei que este não é um assunto que mereça ser simplificado e resumido a frases carregadas de uma espiritualidade fria e sem misericórdia, nascida na mente doentia de quem insiste em encontrar demônio em tudo que não entende ou não sabe explicar. Não foi fácil ver a mulher que eu amei desde a juventude, silenciosa e alheia à vida comum do lar. Mas, fui pastor dela: Amei-a mais; conversei mais; orei mais; cultivei mais sua companhia, ainda que muitas vezes silenciosa; busquei motiva-la a sorrir; pintei todos os dias novos quadros de esperança em sua mente, na tentativa de trazer mais cor ao seu mundo cinzento. Também li mais a Bíblia com ela!
Que poder tem as Escrituras! Lembro-me de muitas vezes fazer alusão ao Salmo 19 e juntos ratificarmos a nossa fé na capacidade das Escrituras restaurarem a alma. Lembro-me de orar baseado no convite de Jesus aos cansados. Lentamente, a medida que os medicamentos cumpriam o seu papel no corpo e a Verdade na alma, o cansaço foi sendo substituído por um descanso profundo. Que bom é hoje olhar nos seus olhos e enxergar brilho, poder abraça-la com um sentimento de gratidão no coração e simplesmente fazer de uma frase a mais poderosa de todas as orações: SENHOR, OBRIGADO PELO SEU DESCANSO!